quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

natal 2019

Curioso encaro a vida, o começo e o fim, 
e a cada parte que se move,
lanço um olhar inacabado.

A cidade e’ mais 
luminosa,
o sol
entre iguais e outros,
o vento
desfaz os pecados noturnos, 
lançados `a vala de desfeitos amores.

Na porta da rua, esperançosos os comerciantes,
pedintes, viajantes, atrasados contumazes
ao terceiro sinal da catedral,
aguardam dias melhores.

Natal 2019

sábado, 21 de dezembro de 2019

Lilases




Este lado, em paraíso, a rubra cobra desliza,
Em direção ao abril.
Desliza o silente dito
Em direção ao inverno.

Agrada-me, tão longe, supera-me, em falas,
Sem meios de respondê-la, o espelhado desejo, 
esgotado
Em outras passagens.

Em fim, sem fim, esvazio de lado,
O último pingo

Da amarga paixão.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

caminho

ao lado caminho, ao lado pergunto
ao lado, sustento o fra'gil pulso,
e o gosto na boca desfalece em delicados suspiros de atencao futura. 

pronto, acertei no tento e aguardo o premio
lila's
 

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Ponto e linhas


Encostada ao muro, deixando flutuar,
a dama da noite recorta, 
a expectativa frustrada, o gesto interrompido,
o gosto esvaziado,
deixa de leve, seus espinhos em ponta, anunciar
frágeis peles e corações, desfeitas as listas de luz que indicam o caminho.
Encerrado. 

Sobram lembranças, afinais, desfeitos os tempos e espaços, outros e vazios humores, amores,
Deslocam-se em filas, em fitas, o pelotão.

Ponto e linhas.

Kleber
Agosto 2019

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Corpo




Doía, em cada perna, em cada braço, 
Em cada cabeça pulsava uma pressão desmedida.
Sofria a cada palavra, infame, em cada ódio estirado em longas tiras, 
Em cada gesto de força, de socos nas mesas e nos ares, 
Em cada dura pancada, em cada grito mudo.

Então devia, mas não, se encolhia,
Quando o medo e o desespero deixavam exalar o cheiro da dor, do sofrimento, o limite da morte, as agudas agulhas lentamente penetrando ponto a ponto em toda articulação.

Fugia, passos, correria, e cinzas as estradas não mais levavam a mais nada, a nenhum sentido, direção.
Direções.



29 julho 2019

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Hora de morrer

Todos estes momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. 
Hora de morrer.
Roy, em Blade Runner

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Então


Então diria, quem sabe, talvez, um dia, ontem, amanhã, 
e se viraria lentamente, deixando no ar um cheiro doce de perfume e suor.

O caminhão roncava se esforçando para subir a ingreme ladeira revestida de paralelepípedos. Aos seus lados, pessoas, embrulhos e largas bolsas, carregavam a casa as poucas compras de armazém e açougue. 
Crianças gritavam. 
Mulheres nas janelas, homens nas portas dos bares. 
Tardinha.

O olhar se desfazia em limites das montanhas, no fluido horizonte das superpostas casas e serras, muitos cinzas superpostos até o azul de inverno, retido no interior do casaco de lã. 

Sem recursos além, sobravam o jogo de bicho, a contagem, os favores de outrem.

Pernas e o corpo doíam, mantidos na desagradável postura, sem ganhos.



Kleber
Julho 2019

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Acertos e estranhamentos



 Onde o novo? 
Na cidade, de luzes e riscos prenhes de róseo futuro,
protegidas suas portas e muralhas pelo arcanjo, Miguel, 
ou nos intervalos, entre partes e frestas, onde ronda o vento, silva os ares e ocupam os gentios?
No embate público, macios interiores, tudo se acumula, tudo se multiplica em faltas e afetos,
E juntos, alinhados `as afecções coletivas, 
desejos escapam dos espectros,
exploram falas e gestos, inventam lados, 
que se alteram, se dobram rapidamente,
em coletivos e turbas desgarradas, em ordens ou dispersos escuros olhares cruzando ódio 
em contínua disputa de longos campos e montanhas.

Nada há nada a orientar, nem o tempo, nem o norte, nem a certa linha ou a reta direção, paralisados, 
determinada somente a vontade em esvair novidades e prazeres na noite perversa.
Que sobra?
Reflexos, olhares, desvios, e o gesto incompleto.


Kleber
Lisboa 2017
Vitória 2019


domingo, 19 de maio de 2019

Encanto




Sustento a vontade, um jeito meio estranho, quando devolvo a taça perdida ao seu canto, e na outra porca, parafuso,
que mal sustenta as pernas da mesa de sal, desfaço o trabalho, o esforço de esquecimento, desmaiada sobre o chão.


Que suporte equilibra o perdido sonho, substitui a desejosa aparição, que da luz empírea, derrama a graça, em réstias desmanchadas,
Em gotas derramadas,
E em ligeiros grãos, desarticula o saco que tudo suporta e tudo e’?

Um primeiro terceto abriga a ilusão,
Da religião, da imaginação, desfeitas
Pela dura e seca ciência.

O segundo, sem fe’, escava potes, amassadas panelas, raspa o duro quintal,
Espera sentado, esperança,
Encantamento.


domingo, 12 de maio de 2019

Como



Como pudera pensar que fosse ainda possível, talvez um milagre, talvez um extraordinário, que em algum tempo único, um excepcional evento fizesse brilhar a rua, reluzir a cidade, iluminar toda a região, no início da noite, quando deixadas findas as longas sombras nos montes.

Mas esperara em vão, insuficiente o seu desejo e a minha esperança para romper a dura casca, deslizar no estreito caminho, e fazer vazar, nem que por poucos instantes, o cheiro doce, deixado pelos ventos largos, a se confundir com o perfume da pitangueira, sozinha, sobriamente instalada junto ao fundo do quintal. 

Sobrou-me uma pequena parte, um trecho do riscado, um metro do estampado, deslocados em minhas mãos, deslizando, a seda e o fresco veludo azul sobre o escorregadio piso de granito. 

Restou-me uma palavra esquiva, movimentando sem oportunidade contra a luz e a agitação, guardou-me apenas mais uma tentativa, frustrada, como.

terça-feira, 16 de abril de 2019

segunda-feira



Algo rompe a fresta, o fraco e frígido patamar da segunda feira,
desloca em vazios em pés quebrados, a mesa torta, empresta
a cada canto um sentido.

Diria como manter em palavras escritas a doce dita, encurralada ao final em tardes quentes,
os sois decaídos ao canto do mar.

O amplexo me informa a nova vida em suspensão.



sexta-feira, 12 de abril de 2019

cidade de pedra



Cidade de pedra
Que nos resta, atual a sina da solidão e esvaziada a solidariedade, que fazer de nossos confortos e desilusões?
Que nos resta das mulheres infelizes?
Infinitos abandonos.