quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Somente 2

 


 

Não digo, me calo, o esforço maior, prolongado,

me arranha os pelos.

Não mais aguardo, no longo tempo deslizado, 

a vitória, o gozo, o cheiro,

a redenção,

Sobrevivo, apenas, sem gosto, sem mais desejos e espreitas, 

sem mais chegadas, sem

deslumbradas anunciações.

A pedra, imóvel e dura, acumula as perdas,

ao gosto das horas, ao estreito gesto desfeito, desisto,

imagino, se não fui eu, errado o caminho e o olhar, desenganado, desconfio,

Só.

 

Novembro 2020

quinta-feira, 23 de julho de 2020

luz

Vejo a luz, o caminho e a salvação,

Ouço o lado, o ruído, a confusão, 

Extrema maldade.


Calo-me, solitário, com os fios da vida, 

estendidos em panos coloridos.

Vermelhos e rosas.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

gosto

(Des)gosto, desfaço o laço, enrolado, desfiado,

tento a meta, o farto, o completo, o cheio, o imenso receptáculo,

Fracasso.

domingo, 19 de julho de 2020

Somente


 

Não digo, me calo, o esforço maior, prolongado,

me cansou.

Não mais aguardo, no longo tempo, a vitória,

A redenção,

Sobrevivo, apenas, sem mais gosto pela vida e pelos outros.

 

A pedra, imóvel e dura, acumula as perdas,

Insensível ao gosto das horas, ao estreito gesto desfeito, desisto,

Imagino, se não fui, eu, errado o caminho e o olhar, desenganado, desconfio,

Só’.

sábado, 9 de maio de 2020

Corpo



Doía, em cada perna, em cada braço,
em cada cabeça pulsava uma pressão desmedida.
Sofria a cada palavra, infame, em cada ódio, em longas tiras,
em cada gesto de força, socos nas mesas e nos ares,
em cada dura pancada, em cada grito.

Então devia, mas não, se encolhia,
quando o medo e o desespero deixam exalar
a dor,
o sofrimento, no limite da morte, e
as agudas agulhas penetram, ponto a ponto, em toda articulação.

Fugia, passos, correria, e cinzas as estradas não mais levavam a mais nada, a nenhum mais sentido, direção.
Direções.





sexta-feira, 8 de maio de 2020

caminho

ao lado caminho, ao lado pergunto
ao lado, sustento o frágil pulso,
e o gosto desfalece em delicados suspiros de atenção futura.

pronto, acertei no tento e aguardo o prêmio
lilás.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

chuva


ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas
e.e.cummings

quando o isolamento, o corpo enfrenta o mal, cidade, recolho-me ao pequeno, estímulo e gosto, de molduras poucas e poucos toques, viajo em torno do quarto,
quando olho para atrás, aos lados, assustado, antecipo seu prematuro desaparecimento e fugaz, desconfio, que na arrumação apressada estão faltando peças ou deixado deslocado o arranjo anterior,
quando não importa as infinitudes do olhar, a profundidade da paisagem, dobro aposta ao fundo enevoado do mar,
aconteço.

Abril 2020

domingo, 15 de março de 2020

De um jeito doce



A gosma encontra um canto, revanche, diz,
supõem espreitar a curva destra que dissolve a escuridão, de longe
faz parte de um dia,
longo e infeliz dia,
de quando a luz desaparece de repente.

Descanso o braço junto ao mar, a brisa desmancha suaves montanhas de areia, escorre ponto a ponto, grão a grão, faz
a dobra, o drible do canhoto jeito de ser.

Ouvindo o canto, o vesperal vaza a noite, encanta o olhos a dormir,
sonolentos.




14 de marco de 2020

sábado, 4 de janeiro de 2020

11.11.11



Há cento e um anos, `as 11 horas do dia 11 de novembro de 1918, foi assinado o armistício que definiu o fim da primeira guerra mundial, a grande guerra.
Embora o Canada’ tenha sofrido, nesta guerra, um número relativamente baixo de perdas militares, 60 000, em um total mundial de 9 milhões de mortes de soldados e mais de 10 milhões de perdas civis, todo o ano, nesta hora, neste dia, neste mes, milhares de pessoas saem as ruas, ostentando nas lapelas, uma flor vermelha de papoula, de papel, como uma forma de lembrar este sofrimento e dor.
Mas porque este dia é ainda recordado, em um dia feriado, na província de Columbia Britânica, em um país e uma população, que aparentemente tenha sentido menos perdas, principalmente civis, que os países da Europa?
Ou quantas mortes serão necessárias para relembramos a inutilidade da violência das guerras?
Foi nos campos vermelhos de papoula, ao norte da Franca, que em irracionais batalhas de trincheiras, o sangue de milhões de jovens foi sacrificado, durante quatro anos, de 1914 a 1918, aos interesses imperialistas e expansionistas dos países europeus.
E foram os ódios, os desejos de revanche e vingança, restos da primeira guerra e da crise do capitalismo de 1929, que produziram as condições de crescimento do movimento nazista, geraram a segunda guerra mundial, a ampliação das mortes civis e militares, e o genocídio de judeus, ciganos, doentes e adversários políticos, que fez que contaram-se mais de 70 milhões os mortos, no segundo conflito global.
E mais guerras e conflitos violentos se seguiram.
Coreia, Vietnam, Iraque, e tantas outras, guerras civis e coloniais, em todo o século XX, multiplicando os mortos e desalojados, sofrimentos e desesperos.
Hoje as guerras não são mais globais. Ainda. Mas as violências de todo o tipos se espalham, ocupam nações inteiras, separam cidades e comunidades, atingem principalmente os mais fracos e incapazes, dividem, expulsam milhões `a migrações forçadas, pela miséria ou por preconceitos, ódios.
No mundo que a violência continua endêmica, em pequenas e grandes guerras, ampliam-se as agressoes contra as mulheres, contra os homossexuais, os negros e pobres, acirram-se disputas políticas e religiosas.
Nestas infinitas guerras diárias, não se erguem memorais, monumentos, não se comemoram feriados, não se movimentam multidões e não se incorporam símbolos, flores nas lapelas.

Kleber Frizzera
Novembro 2019