segunda-feira, 29 de julho de 2019

Corpo




Doía, em cada perna, em cada braço, 
Em cada cabeça pulsava uma pressão desmedida.
Sofria a cada palavra, infame, em cada ódio estirado em longas tiras, 
Em cada gesto de força, de socos nas mesas e nos ares, 
Em cada dura pancada, em cada grito mudo.

Então devia, mas não, se encolhia,
Quando o medo e o desespero deixavam exalar o cheiro da dor, do sofrimento, o limite da morte, as agudas agulhas lentamente penetrando ponto a ponto em toda articulação.

Fugia, passos, correria, e cinzas as estradas não mais levavam a mais nada, a nenhum sentido, direção.
Direções.



29 julho 2019

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Hora de morrer

Todos estes momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. 
Hora de morrer.
Roy, em Blade Runner

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Então


Então diria, quem sabe, talvez, um dia, ontem, amanhã, 
e se viraria lentamente, deixando no ar um cheiro doce de perfume e suor.

O caminhão roncava se esforçando para subir a ingreme ladeira revestida de paralelepípedos. Aos seus lados, pessoas, embrulhos e largas bolsas, carregavam a casa as poucas compras de armazém e açougue. 
Crianças gritavam. 
Mulheres nas janelas, homens nas portas dos bares. 
Tardinha.

O olhar se desfazia em limites das montanhas, no fluido horizonte das superpostas casas e serras, muitos cinzas superpostos até o azul de inverno, retido no interior do casaco de lã. 

Sem recursos além, sobravam o jogo de bicho, a contagem, os favores de outrem.

Pernas e o corpo doíam, mantidos na desagradável postura, sem ganhos.



Kleber
Julho 2019