domingo, 19 de maio de 2019

Encanto




Sustento a vontade, um jeito meio estranho, quando devolvo a taça perdida ao seu canto, e na outra porca, parafuso,
que mal sustenta as pernas da mesa de sal, desfaço o trabalho, o esforço de esquecimento, desmaiada sobre o chão.


Que suporte equilibra o perdido sonho, substitui a desejosa aparição, que da luz empírea, derrama a graça, em réstias desmanchadas,
Em gotas derramadas,
E em ligeiros grãos, desarticula o saco que tudo suporta e tudo e’?

Um primeiro terceto abriga a ilusão,
Da religião, da imaginação, desfeitas
Pela dura e seca ciência.

O segundo, sem fe’, escava potes, amassadas panelas, raspa o duro quintal,
Espera sentado, esperança,
Encantamento.


domingo, 12 de maio de 2019

Como



Como pudera pensar que fosse ainda possível, talvez um milagre, talvez um extraordinário, que em algum tempo único, um excepcional evento fizesse brilhar a rua, reluzir a cidade, iluminar toda a região, no início da noite, quando deixadas findas as longas sombras nos montes.

Mas esperara em vão, insuficiente o seu desejo e a minha esperança para romper a dura casca, deslizar no estreito caminho, e fazer vazar, nem que por poucos instantes, o cheiro doce, deixado pelos ventos largos, a se confundir com o perfume da pitangueira, sozinha, sobriamente instalada junto ao fundo do quintal. 

Sobrou-me uma pequena parte, um trecho do riscado, um metro do estampado, deslocados em minhas mãos, deslizando, a seda e o fresco veludo azul sobre o escorregadio piso de granito. 

Restou-me uma palavra esquiva, movimentando sem oportunidade contra a luz e a agitação, guardou-me apenas mais uma tentativa, frustrada, como.