domingo, 12 de maio de 2019

Como



Como pudera pensar que fosse ainda possível, talvez um milagre, talvez um extraordinário, que em algum tempo único, um excepcional evento fizesse brilhar a rua, reluzir a cidade, iluminar toda a região, no início da noite, quando deixadas findas as longas sombras nos montes.

Mas esperara em vão, insuficiente o seu desejo e a minha esperança para romper a dura casca, deslizar no estreito caminho, e fazer vazar, nem que por poucos instantes, o cheiro doce, deixado pelos ventos largos, a se confundir com o perfume da pitangueira, sozinha, sobriamente instalada junto ao fundo do quintal. 

Sobrou-me uma pequena parte, um trecho do riscado, um metro do estampado, deslocados em minhas mãos, deslizando, a seda e o fresco veludo azul sobre o escorregadio piso de granito. 

Restou-me uma palavra esquiva, movimentando sem oportunidade contra a luz e a agitação, guardou-me apenas mais uma tentativa, frustrada, como.

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