sexta-feira, 29 de abril de 2016

Enfado




Arrumei o cadarço do tênis, que escorrendo sob a sola de borracha, intimidava o meu andar pelo shopping, e logo refletido, mercadorias e pessoas, logo assumido, do lado dos bons, da parte dos compradores, dos fiéis, dos sensatos, logo junto das felizes moventes gentes, que naquela indeterminada hora, exibiam todos alegres suas satisfações e enfados.
Não via a vista na chegada, somente quando o ônibus virou a esquina e na ponte, entre os intervalos, a cidade, a vida, a cortina se abriu.

domingo, 10 de abril de 2016

Do fogo surdo

Sim, mas quem nos curara’ do fogo surdo, do fogo sem cor que corre, ao anoitecer,..., saindo dos portais carcomidos, dos pequenos vestíbulos, do fogo sem imagem que lambe as pedras e ataca os vãos das portas, como faremos para nos lavar da sua queimadura doce que persiste, que insiste em durar, aliada ao tempo e a recordação, às substâncias pegajosas que nos retém deste lado, e que nos queimará docemente até nos calcinar?

Júlio Cortazar