quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Paris 20.12.2009



1. Uma varal branco e negro, vivos olhos escuros correspondem a um apaixonado
2. Caminhos tortuosos, de estações e linhas, onde os destinos se encontram e se separam a cada instante.
3. Um trem ao lado, informa ao cruzar, o seu caminho diverso.
4. Quantos outros já anotaram, Paris, os seus fragmentos, Cortazar, por exemplo.
5. Diagramas de viagens, os mapas me atraem, pontos e nós de linhas que se cruzam, mas quem me espera na porta da estação?
6. Com carinho, uma jovem descalça a luva para abraçar a mão do parceiro.
7. Circulam em multidão, por entre casas, o rio, pontes, mas a torre domina tudo, todos com a sua vertigem.

sábado, 20 de agosto de 2016

Memória

Quando te vi, o crepúsculo substituira as últimas claridades do dia;
mas, não ficou em trevas, a minha memória.
E' pouco; e' quanto posso.

Pessanha Póvoa

sábado, 23 de julho de 2016

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Deslocamento


Nas ruas, passo a passo,
olho a vitrine, a caminhada do jovem, da velha, do distraído transeunte,
Olho os aposentados que na esquina trocam histórias, o movimento dos carros, o rugido dos ônibus.
Inúmeros desejos deslocam minhas visadas, coisas, gostos, emoções,
Múltiplos sabores, cheiros de especiarias,
talheres em tilintar simulam prazeres antecipados,
E mais a mais, transformo cada pedaço em parte de mim.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Enfado




Arrumei o cadarço do tênis, que escorrendo sob a sola de borracha, intimidava o meu andar pelo shopping, e logo refletido, mercadorias e pessoas, logo assumido, do lado dos bons, da parte dos compradores, dos fiéis, dos sensatos, logo junto das felizes moventes gentes, que naquela indeterminada hora, exibiam todos alegres suas satisfações e enfados.
Não via a vista na chegada, somente quando o ônibus virou a esquina e na ponte, entre os intervalos, a cidade, a vida, a cortina se abriu.

domingo, 10 de abril de 2016

Do fogo surdo

Sim, mas quem nos curara’ do fogo surdo, do fogo sem cor que corre, ao anoitecer,..., saindo dos portais carcomidos, dos pequenos vestíbulos, do fogo sem imagem que lambe as pedras e ataca os vãos das portas, como faremos para nos lavar da sua queimadura doce que persiste, que insiste em durar, aliada ao tempo e a recordação, às substâncias pegajosas que nos retém deste lado, e que nos queimará docemente até nos calcinar?

Júlio Cortazar

quinta-feira, 17 de março de 2016

Batalha


Primeira feiticeira- Quando no’s três nos encontraremos novamente: no trovão, no relâmpago, ou na chuva?
Segunda feiticeira- Quando houver acabado o tumulto, quando a batalha estiver perdida ou ganha.
Terceira feiticeira- Isto acontecera’ antes do por do sol.
……
Todas- O belo e’ feio e o feio e’ belo! Pairemos por entre a a névoa e ao ar impuro!
Macbeth
ato primeiro

Estamos em plena campanha. Em plena guerra. O observador distraído, Fabricio, distante da ordem da batalha, mesmo situado no alto da colina, não consegue descrever os movimentos dos batalhões em combate, se em fuga, se em vito’ria, apenas acompanha aturdido os penachos tremulando nos elmos dos orgulhosos cavaleiros. O sol já esta’ no meio do céu, a poeira, a fumaca e a névoa encobrem a visão das partes e de todos, deixando escapar em réstias, ao olhar e ao olvido, entre seguidos rojões, fragmentos de refregas e choques, que acompanham o surdo, duro e ritmado estrondo dos canhões.
Desconexas falas chegam, hoje, aos nossos ouvidos, em ruídos, pedaços de assertivas e rasgos de compactas afirmações, oriundas de lugares, de origens múltiplas, em um murmurinho como ondas que se espalham pelo teatro da guerra, reproduzindo e ampliando, no espelho, em reflexos, um acumulo de sentidos últimos de violência e uniformes.
Rompida a frágil ordem compensada da troca e da doação, rompida a fina casca de civilização, sobram a vista apenas os choques, fortes  golpes, humilhações, amontoando-se, ao fim, pilhas de cadáveres sobre o chão.
Sempre e’ uma dificuldade, no meio do fragor da batalha, mesmo quando ela descortinada em panorama, ao longe, reconhecer os parâmetros e atores que comandam a sua organização, prever os seus próximos movimentos, somar a composição de diversas forcas em embate, estimar as decisões e antecipar os movimentos e o desfecho final.
Somente alguns sinais podem indicar, superficialmente, em suas exposições e brilhos, nas pequenas falas e discursos, em fatos e eventos, algumas manchas que sombreiam ou iluminam o futuro.
Sem mais luzes para indicar o caminho.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Esquina



Na dobra, perdi o lenço de linho engomado,
portador de memórias desamparadas,
de noites e cheiros, dama da noite,
impressas em becos e iluminadas avenidas.

Onde o bonde não mais circula, nem mais um sonho,
Abandonados os trilhos e suspensos, ate' outra ordem,
O brilho de suas lanternas.