E como luz da manhã, ao levantar do sol,
Numa manhã sem nuvens,
Desse brilho, depois da chuva,
A relva brota da terra.
Davi
Sm 23. 1- 4
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Como
Como pudera pensar que fosse ainda possível, talvez um milagre, talvez um extraordinário, que em algum tempo único, um excepcional evento fizesse brilhar a rua, reluzir a cidade, iluminar toda a região, no inicio da noite, quando deixadas findas as longas sombras nos montes.
Mas esperara em vão, insuficiente o seu desejo e a minha esperança para romper a dura casca, deslizar no estreito caminho, e fazer vazar, nem que por poucos instantes, o cheiro doce, deixado pelos ventos largos, a se confundir com o perfume da pitangueira, sozinha, sobriamente instalada junto ao fundo do quintal.
Sobrou-me uma pequena parte, um trecho do riscado, um metro do estampado, deslocados em minhas mãos, deslizando, a seda e o fresco veludo azul sobre o escorregadio piso de granito.
Restou-me uma palavra esquiva, movimentando sem oportunidade contra a luz e a agitação, guardou-me apenas mais uma tentativa, frustrada.
sábado, 30 de agosto de 2014
Havia
Naquele tempo não se distinguiam estações, ...
E mesmo os trovões, os relâmpagos, a chuva, o gelo e o granizo não seguiam o seu curso.
Havia muitos pássaros e caça, mas não havia quem os caçasse.
Havia o que chamamos demônios, mas não podiam opor-se a nada.
Naquele tempo, a felicidade existia, mas não havia ninguém para distingui-la.
in Historia e memoria, Jacques le Goff
E mesmo os trovões, os relâmpagos, a chuva, o gelo e o granizo não seguiam o seu curso.
Havia muitos pássaros e caça, mas não havia quem os caçasse.
Havia o que chamamos demônios, mas não podiam opor-se a nada.
Naquele tempo, a felicidade existia, mas não havia ninguém para distingui-la.
in Historia e memoria, Jacques le Goff
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
A noite
E `as vezes retorna
no sossego parado de um dia a lembrança
dessa vida alheada na luz espantosa.
cesare pavese
no sossego parado de um dia a lembrança
dessa vida alheada na luz espantosa.
cesare pavese
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Uma.
O nosso presente, no tempo e espaço, e’ constituído por uma
complexa rede de acontecimentos, que de uma forma ou outra, foram
potencializados ou obstruídos por decisões, iniciativas ou impedimentos
históricos, realizados ou negados pelos homens, e deixados marcados na construção
e em uma paisagem partilhada, em um território artificial comum, atualmente mais
urbano que rural.
Mas diante desta presença material, imposta ao sitio, e do excesso desta
memória que nada esquece, que permanece, que tudo guarda, tudo arquiva e tudo acumula,
haveria uma medida humana, que limite a preservação a um “ nada demasiado”,
a um ponto de negociação e de equilíbrio entre a memória e o esquecimento, um
meio termo entre a determinação e o livre arbítrio, que articule a inovação com
uma justa lembrança?
E como abrir caminhos, neste justo intervalo, entre a recordação e o olvido,
para deixar surgir o extraordinário, o inusitado, para deixar vazar um evento
que não e’ unicamente uma surpresa, mas “ o novo do passado em si”,
feito das inúmeras possibilidades e projetos anunciados mas frustados,
impedidos ou traídos, que restaram como realidades alternativas, do que poderia
ter sido ou ter acontecido, fermento da criação e da invenção.
4.10.2015
4.10.2015
sexta-feira, 20 de junho de 2014
Hinos
“As estátuas são agora cadáveres cuja
forca vital se dissolveu, os hinos são palavras que deserdaram da fé’..... Elas são doravante
aquilo que são para no’s: belos frutos extraídos da
árvores..., e. não há’ mais efetividade de seu ser ai’, nem a árvore que o
trouxe, nem a terra, nem os elementos que formaram a sua substância .
Assim, o destino não nos
restitui, junto com a obra de arte, o seu mundo, a primavera e o verão da vida ética em que elas floresceram e amadureceram, mas apenas a
lembrança velada ou o
recolher-se interior dessa efetividade.”
sábado, 11 de janeiro de 2014
Exílio e cidade
Ao final do jantar anual de Páscoa, os judeus se desejam: "No próximo ano em Jerusalém"; e nos casamentos judaicos o noivo recita "Se eu esquecer de Ti, Jerusalém, que minha destra perca sua destreza"
Junto aos rios da Babilônia nós nos sentamos e choramos com saudade de Sião.
Ali, nos salgueiros penduramos as nossas harpas;
ali os nossos captores pediam-nos canções,
os nossos opressores exigiam canções alegres,
dizendo: "Cantem para nós uma das canções de Sião! "
Como poderíamos cantar as canções do Senhor numa terra estrangeira?
Que a minha mão direita definhe, ó Jerusalém, se eu me esquecer de ti!
Que a língua se me grude ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti,
e não considerar Jerusalém a minha maior alegria!
Salmo 137
Poderei voltar, para te encontrar afinal na cidade de onde nunca me afastei, exilado em minha terra natal, ou escolhida, por acaso ou graça, onde de nada consigo mais nada esquecer, nem mais suporto o peso e a soma acumulada de restos e lembranças?
E estará’, ainda a espera, minha noiva resplandecente, Jerusalem, virgem e branca, deslumbrante nas suas danças e cantos, aguardara’ paciente a minha sempre adiada volta?
Ou antes, impaciente sem mais, fora dos trilhos, você se lançara’ no bracos de um Wronsky qualquer?
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
A transgressão dos limites
A torre de Babel
O despertar do espirito e’ o reino dos nomes
Hegel
Limites
Se os limites da terra, das cidades, dos campos e plantações, dos comportamentos e dos mandamentos, foram impostos por Deus aos homens, quando deixados, por suas contas, dispersos em muitas terras e lugares, a tentativa de sua ultrapassagem passou por uma nova edificação, uma cidade e torre de Babel, quando, “ construamos uma torre… para que não sejamos espalhados por toda a terra”.
Mas Deus os separou, construtores das plataformas, multiplicou, sem conversa, as línguas pela superfície de toda a terra, e garantiu a sua promessa e acordo para um so’ povo e um só lugar, Israel, para um único livro, uma solitária cidade, jerusalém e as suas muitas interpretações.
E se ainda se podia acreditar que o ponto de vista para admirar o mundo poderia ser único, central e abrangente, poderoso na sua posição superior e na sua univocidade, após a dispersão por ordem divina “fica claro que e’ o homem quem perfaz a experiência da eclosão, da ruptura e da diferença, sendo os pontos de vista sobre o universo tao numerosos quanto forem a multiplicidade de olhares”.
Depois dessa quebra, desta fratura, nada sera mais dado como inteiro, e “ toda a criação sera perturbada pela dispersão da luz divina”, comenta Scholem, rompidos os vasos que a continham, e todo o universo estará sempre em exílio, e tudo que ocorre no mundo tornara’-se-a a expressão deste exílio, o primeiro e o primordial.
Nesta separação permanente, a memória e e rememoração se tornam o campo privilegiado de disputa, onde se efetuam duas operações de sentido contrarias : “o esquecimento, … um dispositivo de luta contra o passado, e o vestígio, que e’ o retorno do esquecido, ou seja, uma ação desse passado daqui em diante forcado ao disfarce” , diz Michel de Certeau, um passado como o fantasma de Hamlet, que “ assombra o presente”.
Um presente assombrado por este resto excluído, do retorno do recalcado, que vencendo o esquecimento, forja esta resistência que se inscreve como sintoma do passado no presente, superando o desejo do historiador e da historiografia de “ instaurar um corte entre o passado como objeto de conhecimento e o presente como lugar do acontecimento onde são elaboradas as representações do passado.” , conclui Marc Auge’.
Ja’ para Halbwachs, a imagem das coisas participa da própria inércia destas, da inércia das marcas impostas e fixadas no tempo, pelos grupos humanos, impressos ao espaço, `a forma e `a matéria, quando“ sera' no contraste entre a impassividade das pedras e o tumulto no qual se encontram que os persuade, aos homens, que apesar de tudo nada esta perdido, já’ que as paredes e as casas continuam de pe’.”
Mesmo que estranhas, estas marcas e riscos, `a nossas muitas agitações quotidianas, mundanas, fornecem uma sensação de ordem, continuidade e permanência, e uma maneira de espreitar uma pequena passagem através da imposta dispersão.
Neste estreito caminho, apenas descortinado, surge a oportunidade de reencontrar a ordem original das coisas, a fim de “ reunir as centelhas do divino espalhadas pelo mundo”, resultadas da auto restrição, de um recolhimento do eterno sobre si mesmo, e assim reservando um lugar na totalidade, `a humanidade.
Mesmo que estranhas, estas marcas e riscos, `a nossas muitas agitações quotidianas, mundanas, fornecem uma sensação de ordem, continuidade e permanência, e uma maneira de espreitar uma pequena passagem através da imposta dispersão.
Neste estreito caminho, apenas descortinado, surge a oportunidade de reencontrar a ordem original das coisas, a fim de “ reunir as centelhas do divino espalhadas pelo mundo”, resultadas da auto restrição, de um recolhimento do eterno sobre si mesmo, e assim reservando um lugar na totalidade, `a humanidade.
Mas de que modo a memória pode tornar-se linguagem, pergunta Agamben, dando, assim existência a consciência?
Neste esforço, centrado ou desviado, nos encontramos, nos deparamos com as inúmeras fraturas nos limites do cosmos, incapazes os humanos de superarem a sua própria finitude, sua reduzida escala e dimensão, inerentes a subordinação e a pequenez ao projeto da criação divina.
Imaginamos, em momentos, movidos pela ambição e pelo gozo, sermos capazes de constituir uma outra ordem, lançadas ao chão os originais alicerces e os gostos, gestos da polidez e encanto. Levantamos as vozes, fortes pensamos, autônomos, criados por nós mesmos, orgulhosos, vazando a vaidade e o prematuro orgasmo, esquecidos da sombra do mal, quando destapados os vasos guardados, ocupam com suas armas e violência primitiva e dilaceram os corpos e peles, quebram os espíritos e as sutis delicadezas.
Mergulhemos em sangue alheio a pena de nossas irritações e ódios, sem avaliar os riscos e o peso sobre a matéria e o espi'rito.
editado 20/06/2015
editado 20/06/2015
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