quarta-feira, 24 de julho de 2013

Doce odor


Acabado o prazo de validade, no limite último da finitude material e humana, nas nossas cidades e vilas, edifícios e lugares tentam se manter vivos, escorados, ameaçados pelos desejos de novos projetos, fragilizados diante dos inexoráveis pesos e forças do destino.
Suportaremos os seus tristes fins, seus lentos desgastes e desmoronamentos, verteremos furtivas lágrimas sobre suas ruínas, e encerrados os atos expiatórios, perderemos definitivamente suas memórias e passados?
Deixemos-nos  levar, como o rio que nunca mais retorna, de água e fluxo, ao mesmo ponto e margem, que nunca mais passara’ sob os arcos da mesma ponte de pedra, ou quando retesado o braço, esticaremos o arco a tempo, lançada a flecha contra os fragmentos entulhados, ocupados ao denso olhar.
Circulamos, então, aliviados, com prazeres melancólicos, nas suas ruas e becos históricos, aspirando, casa após casa, o doce odor das trepadeiras e glicínias, dos acontecimentos e da salvação, debruçadas seus galhos e espinhos no profundo recorte do tempo.

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