quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O esquecimento. pó e leveza.



Há um exercício de esquecimento permanente na maneira que as coisas vão se acabando lentamente, se desmanchando ponto a ponto nas cidades, em Vitória, deixando em pó e areia os objetos, as casas e os acontecimentos, que ao menor sopro do vento se dissolvem no ar e na maresia junto ao canal do porto. 
Seria insuportável manter vivo cada registro, acumulando-se em camadas, pousando suas marcas, a cada dia, a cada hora, sobre as fachadas e pisos, grudando-se à cada instante e outro e mais, imprimindo sem fim, nas pedras superpostas, tanta informação, que o risco do corte inicial desaparece soterrado sob esta massa de dados pegajosa e macia que ao apertar dos dedos deixa sujar as mãos de uma lama escura sem sentido e sem definição.
Bom as coisas que viram pó e leveza. Levemente desgrudam-se de seus suportes e volteiam pelos ares não se juntando a nada, não se agrupando em novas formas, deixando-se levar desgarradas até que nem o brilho do sol consiga mais captar as suas desaparições definitivas no final da tarde, quando as sombras ombreiam contra as montanhas e os sobrados da velha cidade.
2002/2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário