Entreaberta a porta, toquei de leve a campainha, que mal sussurrou o seu despertar, bing bong, refletida em vazio nas paredes do apartamento, algo normal, de falta repetida e da ausência, quando sua voz surda apagava o destino.
A luz da manhã fazia um trilho de poeira que se depositava sobre o tapete de sisal, marcado de pés, cerveja e cigarros e rompia o silêncio das coisas, lentamente dissolvendo as ultimas falas e gozos abandonados no ar.
A cama permanecia desfeita de outros encontros, o lençol lançado ao chão, os travesseiros amassados, a luz acesa do banheiro refletida no espelho rachado de tantos sonhos de olhar.
Havia também uma cozinha, escura, de copos sujos, restos de comida e panos de prato falando de amor e sexo.
Lá fora, carros acelerados atropelavam a rua estreita, porteiros de porta em porta, na esquina, em longos fileiras, toma-se café e pão com manteiga encostados ao balcão de mármore.
Se olharmos em profundidade, esticando o pescoço na janela, o mar acontece no final da rua, em Copacabana.
Nada mais restava, fechei a porta e fui embora.
2024