Ser, mundo, evento.
em seus olhos, vejo minha perda escrita
racine
Fazer
do futuro uma recuperação do passado, uma vitória após uma seqüência de
batalhas, “de derrota em derrota ate’ a vitória final”, como disse Mao, e’
possível somente na medida que não apenas vemos, mas também desejemos esta
vitória.
Nesta
disputa, o passado não e’ uma saudade melancólica, um acu'mulo de acontecimentos
vazios e objetos fetiches, mas um receptáculo de projetos desperdiçados, onde
presentes nas suas ruínas e partes desconexas podem estar as esperanças e os
sonhos de uma emancipação radical da humanidade.
Mas
onde estarão as verdadeiras, legitimas peças do patrimônio histórico coletivo,
a serem usadas e transformadas?
Quais
as formas, em suas perenidades, na sua pulsão de morte, na sua incrustação no
solo original, quais as formas a serem mixadas, na carnavalização
revolucionária, em uma imposição de um
novo mundo?
Um
novo mundo que desvele as suas aparências particulares e neste intervalo vazio
permita gerar novos nomes e lugares, ocupar falas que “ trarão `a vida o mundo
desconhecido que esta’ a nossa espera porque esperamos por ele”
“ Mas
e se o futuro ao qual se deve ser fiel for o futuro do
próprio passado, em outras palavras, o potencial emancipatório
que não se realizou por causa do fracasso das tentativas passadas e, por esta razão, continua a nos perseguir?” diz Zizek, e o excesso do
entusiasmo revolucionário e’ portanto, o de um futuro do/ no passado, “um
evento espectral que aguarda sua encarnação apropriada.”
Neste
ponto, Slavov Zizek recorre `a elaboração de Deleuze sobre a repetição como a
forma do surgimento do novo, ou como Alain Badiou, quando desenvolve o conceito
de ressurreição, como uma destinação subjetiva de um evento, uma reativação de
um acontecimento cujos traços foram obliterados ou apagados, onde “ todo
sujeito fiel pode reincorporar `a sua presença evantal um fragmento da verdade,
que foi enterrada por baixo da barra da ocultação” . E’ esta reincorporação que ele chama de
ressurreição.
Recolher,
separar, deixar valer uma memória que não se submeta `as ordens imperiosas do
arquivo e da história oficial, recuperar uma memória ancorada nas falas
abafadas, nas fluidas transmissões orais, dos incessantes fazeres e cantos, uma
memória de muitas festas e paixões, onde os pequenos acontecimentos se
movimentam nos estreitos vazios da dura cidade.
Mas
como escolher?
Haverão
traços que ultrapassem, hoje escondidos, antes soterrados, a essência dos lugares, a origem e começos
desta segunda natureza que nos abriga e nos engana?
Que
nos ama e nos entristece.
maio.2015